Neste
dia 24 de março, uma equipe de apenas quatro voluntários do IFPPC efetuou um
trabalho da maior importância, com pleno êxito, valendo-se de um conhecimento
tradicional dos antigos ferroviários da Perus-Pirapora.
No
dia 10 de março a locomotiva no. 2 havia sofrido um sério descarrilamento,
ficando atravessada diagonalmente na entrada do pátio de Corredor,
impossibilitada de movimentar-se e impedindo a operação ferroviária de todos os
domingos.
Já
no dia 16 uma equipe havia iniciado o trabalho, levantando e aprumando a
locomotiva. Como a Perus-Pirapora não tem um guincho capaz de erguer as 19
toneladas da locomotiva, o serviço teria de ser feito com macacos e encarriladores, prevendo-se
muitos tempo de trabalho dos voluntários do IFPPC para deslocar a locomotiva
lateralmente até colocá-la sobre a linha. No fim de semana seguinte foi
impossível continuar, devido às fortes chuvas que caíram.
Ontem,
porém, a equipe composta de Nelson Camargo, Antônio Carlos de Souza, Antônio
Carlos Gomes e Lúcio resolveu a situação em menos de um dia de trabalho, apenas
com equipamentos manuais, encarrilhando 3 dos quatro rodeiros, faltando apenas
o último rodeiro. O trabalho só não foi concluído por ter anoitecido, mas será terminado em breve, permitindo a retomada das operações normais no domingo dia
31.
Antônio
Gomes dá uma breve descrição da técnica usada: "Com o Sr. Nelson
tomamos uma linha de trabalho um pouco diferente do que estava sendo executado;
soltamos o truck traseiro sobre calços e pedaços de trilhos, levantamos a
dianteira até que as rodas do truque ficassem acima do trilho, com o tirfor fixado ao solo
puxamos lateralmente a máquina e conseguimos recolocar o truque no trilho. A
partir daí foi muita paciência e trabalho duro. O Sr. Nelson lembrou que
existiam uns dispositivos para encarrilhar a máquina, o restante foi calço de
madeira, pedaços de trilhos e o tirfor na dianteira da máquina, fazendo a máquina deslizar para
os trilhos roda a roda. Como estava atravessada nos trilhos, foram necessárias
várias manobras para que a máquina ficasse alinhada com eles. O sr. Nelson pode
acrescentar mais algum detalhe que passou despercebido".
Nelson
Camargo, o líder da equipe, conta que usou um segredo aprendido com seu avô e
seu tio, ambos antigos ferroviários da Perus-Pirapora: "quando uma
locomotiva descarrila, as primeiras rodas que devem entrar novamente na linha
são as rodas-guia, empurrando a locomotiva para diante ou para trás. Só depois
se encarrila as rodas motrizes. Não sei se isso era somente a experiência deles
ou se era uma regra".
E
realmente a velha técnica da ferrovia funcionou perfeitamente, graças ao
esforço e disciplina da equipe. Nelson conta que o outro segredo foi o trabalho de equipe e, modesto, credita o êxito aos colegas: "todos nós fomos à
luta; eles foram os que mais se sacrificaram, a ponto de não conseguirem mais
levantar o peso de uma marreta. Se alguém merece um parabéns bem grande são
eles".
A
seguir, algumas fotos do acidente e dos trabalhos de resgate.
A
locomotiva descarrilada. O acidente aconteceu devido a uma brincadeira de uma pessoa alheia ao IFPPC, que acionou
a chave do desvio indevidamente; a agulha do AMV (aparelho de mudança de via)
ficou "jurada", isto é, posicionada no meio, sem dirigir o trem para
nenhum dos lados. Ao passar ali, os dois primeiros rodeiros da locomotiva 2
entraram para a direita, e os outros dois para a esquerda. Só não houve maiores danos graças à baixa velocidade em que o trem entra
no pátio.
Outro ângulo da locomotiva descarrilada, ao se iniciar o trabalho no dia 16 de março.
Isaías Angico inicia a elevação da traseira da locomotiva, ...
... que Jair e Leandro Guidini prosseguem, trabalhando com o macaco pesado.
No
dia 24, Nelson orienta Lúcio no posicionamento de um Trifor para iniciar o
deslocamento lateral da máquina.
Depois,
Lúcio e Antônio Souza o colocam à frente da locomotiva, para levá-la para diante…
… deixando-a bem mais alinhada, …
… e lentamente colocando cada rodeiro no trilho com ajuda do encarrilador.
No fim do dia, a natureza vem agradecer à ferrovia que tanto ajuda a preservá-la: algumas capivaras que vivem nas terras da ferrovia e do Parque Anhanguera visitam os cansados voluntários e lhes recordam as belezas do lugar!
A todos os voluntários do IFPPC que se esforçaram nesta operação, os cumprimentos e agradecimentos da diretoria.
Certamente o êxito deste trabalho é notável, com um lado muito visível: o rápido retorno da locomotiva à operação.
Porém, há um lado menos visível e tão importante quanto ele: a preservação do know-how desenvolvido e transmitido informalmente pelos antigos ferroviários ao longo de gerações.
E mais uma vez fica provada a necessidade da revitalização das antigas ferrovias, já que o uso é a única forma realmente capaz de preservar o conhecimento.
Ótimo trabalho dos colaboradores do IFPPC. Parabéns!
ResponderExcluirExperiência e boa vontade são tudo: parabéns ao Nelson e esta equipe de voluntários pelo trabalho efetuado.
ResponderExcluirAqui em Jundiaí estou acostumado a realizar uma tarefa de descarrilamento sozinho: ergo a máquina com a mão esquerda até a altura dos olhos, com a direita alinho as rodas e abaixo a máquina lentamente até colocá-la nos trilhos. Tá .... tá .... HO é bem mais fácil. Inté !
Parabéns a boa vontade dos que se fizeram presentes!!! Antes as pessoas se prontificassem em ajudar mais do que apenas aguardar resultado do trabalho dos outros. É fazer de coração!!!
ResponderExcluirCom certeza, Nelli!!! Não é comum as pessoas se disporem a fazer trabalhos voluntários, pois ainda não é uma tradição na sociedade brasileira. Para exemplificar, o IFPPC tem cerca de 30 associados, dos quais uns 10 participam nos trabalhos voluntários. Há 2 semanas estive numa ferrovia muito parecida na Inglaterra, onde eles têm 400 associados, e cerca de 80 participam ativamente. Resultado, a ferrovia está impecável! Mas temos de procurar desenvolver o espírito associativo e o voluntariado, pois não adianta a sociedade ficar reclamando que os governos e outras entidades façam as coisas por ela. Há que mobilizar-se e pôr mãos à obra, por qualquer causa que pareça boa. Abraços, Julio Moraes.
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